quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Melhores do Ano: 2015

           Foi um ano bem satisfatório para o cinema. Tivemos a volta de franquias renomadas e produções originais, alguns fracassaram e outros acertaram em muitas coisas. Pretendo, aqui, comentar um pouco sobre os melhores filmes desse ano que está terminando, em minha opinião, claro, mesclando entre grandes produções e outras mais undergrounds. Considerarei a data dos filmes no Letterboxd por motivos de facilidade mesmo. Alguns filmes que citarei aqui eu escrevi sobre (o link estará no título do longa), e outros pretendo apenas comentar brevemente para não ficar muito extenso. 

A primeira surpresa que tive no ano foi Kingsman: The Secret Service, um filme de ação e comédia sobre agentes secretos. É um filme muito divertido, dirigido por Matthew Vaughn, que dirigiu Kick-Ass (2010) e percebe-se muito a semelhança visual entre os filmes. Nesses mesmos gêneros de ação e comédia, 2015 nos trouxe American Ultra, com Jesse Eisenberg e Kristen Stewart novamente, que contracenaram em Adventureland (2009)Numa pegada sci-fi, temos Ex-Machina, um drama de ficção científica com três protagonistas, dois humanos e um androide. Nathan (Oscar Isaac) criou Ava (Alicia Vikandler), e Celeb (Domhnall Gleeson) passará uma semana com os dois para testar Ava, confirmando se o androide pode se passar por humano ou não. As atuações são incríveis, o roteiro é fantástico e tem um final sensacional, mesmo! Um filme de terror e suspense que gostei desse ano foi It Follows, que traz alguns clichês bem feitos. Se em vários slashers as pessoas que fazem sexo acabam morrendo primeiro, por que não fazer um filme onde uma maldição mortal é transmitida através do sexo? Após o ato sexual com alguém infectado, uma pessoa aleatória te segue para te matar, sem correr, como os slashers fazem, andando calmamente, mas uma hora eles te alcançam. É uma ideia muito interessante e uma ambientação bem feita, com tantos filmes de terror bem ruins sendo feitos, esse é uma exceção.


Outro filme com uma ideia muito interessante é o nacional Entre Abelhas, estrelado por Fábio Porchat e dirigido por Ian SBF. Aqui as pessoas acabam sumindo para o protagonista gradualmente; pessoas nas ruas, amigos, vizinhos, ficam invisíveis para ele. Achei a ideia muito boa, porém não muito bem desenvolvida. Gostei da atuação do Porchat também, ele não está overacting, e sim muito bem contido, mas com alguns alívios cômicos. No cenário brasileiro temos ainda o queridíssimo, premiadíssimo e aplaudidíssimo Que Horas Ela Volta?, estrelado por Regina Casé, que interpreta uma empregada que mora na casa de seus pratões de classe média alta em São Paulo, tem sua rotina mudada quando sua filha, que mora em Pernambuco, vem para São Paulo prestar vestibular e tem que ficar alguns dias morando nessa mesma casa. O filme aborda temas muito enraizados em nossa sociedade e que muitas vezes acabamos não problematizando, por mais prejudicial e preconceituoso que seja. Regina Casé é “praticamente da família”, vive num quartinho nos fundos da casa dos patrões e sua filha não acha isso nada bom, e começa a instigar sua mãe sobre essa vida e sua relação com os patrões.

Falando em ideia boa, talvez uma das melhores e mais originais desse ano pertença ao filme Unfriended. É um filme de terror que se passa numa tela de computador. Você utiliza Skype, Facebook, Youtube, Instagram, Twitter, etc..? Se sim, vai se identificar bastante com o filme. Temos aqui a história de uma garota que se suicidou porque sofreu bulliyng após um vídeo seu viralizar na internet. No aniversário da morte dessa garota, um grupo de amigos está conversando via Skype, e outra pessoa é adicionada à conversa, e ninguém sabe quem é e muito menos removê-la dali. A trama é passada diretamente do monitor de uma das garotas que está na conversa, e vemos se alternar nos programas, fazer pesquisa no Google, colocar músicas e tudo mais que estamos acostumados a fazer no computador. É uma ótima experiência para você ver com seu computador perto de você, ou bem em frente à TV simulando um computador.


Gostaria de citar também quatro superproduções desse ano que merecem um destaque positivo. A primeira delas foi Jurassic World, que nos trouxe novamente ao mundo dos dinossauros que conhecemos com Jurassic Park (1993). Em seguida tivemos Ant-Man, da Marvel, um filme de super-herói e de roubo muito divertido, estabelecendo um personagem bem interessante para o universo Marvel. Pegando onda nos filmes espaciais que fizeram sucesso nos últimos anos como Gravity (2013) e Interstellar (2014), The Martian traz Matt Demon perdido em Marte tentando sobreviver sozinho por lá. No final do ano tivemos ainda o final de uma franquia com The Hunger Games: Mockingjay – Part 2, que particularmente eu não gostei tanto assim, mas a franquia toda tem seus pontos positivos e merece destaque. Nesse final de ano alguns filmes acabaram vazando e tirei um tempo para vê-los e assistir outros que não consegui durante o ano e gostaria de fazer uma menção honrosa a eles por aqui: Carol, The Visit, Irrational Man, Experimenter, Sicario, The Wolfpack.

Antes dos três melhores filmes do ano, tenho outros que estão em meu coração e são mais undergrounds, digamos assim. O primeiro é The Gift, que eu escrevi sobre aqui no blog. O segundo é Slow West, um drama de faroeste lindíssimo, real, cruel e trágico, onde um jovem atravessa o oeste norte americano em busca de sua paixão, com a ajuda de um homem mais experiente nessas regiões, mas até então um completo desconhecido. O filme tem uma das melhores fotografias do ano, e o final é muito triste, e crível por ser tão real. O terceiro é Southpaw, um filme de boxe protagonizado por Jake Gyllenhaal, um dos meus atores preferidos, e aqui ele arrasa mais uma vez como em Nightcrawler (2014). É um drama de boxe com vários clichês, mas um pouco diferente, moderno e trágico. Outro que escrevi sobre é Brooklyn, filme inglês muito lindo.

Os meus três melhores filmes de 2015, curiosamente são grandes produções. A primeira, com certeza é Mad Max: The Fury Road. Que filmão, uma história muito bem feita, fotografia excelente, atuações incríveis, uma mulher protagonista poderosa e Furiosa, revitalizou completamente uma franquia quase esquecida dos anos 1980. O segundo é uma animação da Pixar, Inside Out, relembrando-nos do porquê amamos esse estúdio. Animação lindíssima que nos mostra como as emoções reagem e interagem na mente de uma garota beirando a adolescência que se muda para uma cidade nova, abordando temas profundos de uma forma didática e incrível. Muito obrigado, Pixar, chorei mais uma vez com você. Não podia ficar de fora, é claro, Star Wars: Episode VII – The Force Awekens! Um dos filmes mais esperados de todos os tempos (se não o mais), batendo todos os recordes de bilheterias, e não é por menos. Após o fracasso de crítica da última trilogia, fomos presentados com essa obra que merece todo o destaque possível. Com os melhores atores da saga, o CGI melhor utilizado, um fan servisse bem feito, peca um pouco no roteiro não tão original. Ao mesmo tempo que é uma continuação, parece um remake de Star Wars: Episode IV – A New Hope (1977), mas que funciona muito bem.




Não assisti a todos os filmes que gostaria esse ano, mas dos que vi esses merecem ser apreciados por outras pessoas também. Fico agora na espera para que 2016 seja tão bom quanto foi esse ano, com superproduções bem feitas, mais ideias originais e um cinema mais acessível no Brasil também. Fica aqui meus agradecimentos a 2015 e felicitações para todos nesse novo ano que está chegando! 

Experimenter

Direção: Michael Almereyda, 2015.
Um filme biográfico sobre o psicólogo Stanley Milgram. O filme conta a história, a partir da década de 1960, de Stanley Milgram (Peter Sarsgaard), um psicólogo formado em Yale reconhecido por pesquisas e testes de obediência. O mais conhecido desses experimentos é constituído por três pessoas, uma aleatória e duas que integram a equipe pesquisadora. É um teste de obediência à autoridade, onde temos um integrante da equipe como o criador do teste, outro integrante como o “aluno”, e o sujeito aleatório como “professor”. O teste consiste em o “professor” ler para o “aluno” alguns pares de palavras, um substantivo seguido de adjetivo, de uma vez, e depois ler apenas uma palavra e o “aluno” tem que completar com a outra palavra, basicamente um teste de memória, e a cada erro o “aluno” leva um pequeno choque de 45 volts que vai aumentado de erro em erro. O “aluno”, sendo integrante da equipe pesquisadora, não leva choque algum, apenas emite sons de dor para que o “professor” pense que é real, pois cada um está em uma cabine e não se veem, e quem aplica os choques é o próprio “professor”. Então há esse dilema: o sujeito continuará aplicando os choques no “aluno” mesmo com os gritos de dor, obedecendo assim o pesquisador chefe, ou ouvirá mais os gritos de dor e não aceitará a continuidade da pesquisa? Além desse experimento, há outros testes comportamentais e de obediência que o filme nos mostra, alguns antiéticos e controversos.


Peter Sarsgaard narra a história do psicólogo para o público, quebrando a quarta parede o filme todo, com muitas explicações dos acontecimentos e algumas partes mais técnicas da psicologia que o público não é obrigado a saber. Há ainda algumas cenas com chroma key muito forte, mas propositalmente, parecendo algo caricaturesco que remete à seriados e filmes da década de 1960, mas que são de certa forma interessantes. É uma narrativa um pouco cansativa pelo excesso de explicação e a quebra constante da quarta parede, que chega a incomodar um pouco. Em certa parte do longa, considerei que poderia ser dirigido e protagonizado por Woody Allen. Creio que o trunfo do filme não seja pelos aspectos técnicos, mas sim pelas reflexões que esses experimentos nos trazem, acerca da filosofia, psicologia, obediência, rebeldia e convívio social. Algumas respostas o filme nos dá pela própria narração, infelizmente, pois Milgram escreveu um livro sobre os resultados do experimento e nos responde algumas perguntas que ele mesmo nos fez anteriormente. Porém, não deixa de ser um filme interessante e que nos traz algumas reflexões necessárias sobre o ser humano, sua natureza e a sociedade que nos envolve a cada dia. Considero um filme 8,5, muito por conta dos aspectos de questionamento que nos apresenta. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

The Wolfpack

Direção: Crystal Moselle, 2015.
Um documentário com uma ótima proposta. O documentário conta a história dos irmãos Angulo, sete jovens que cresceram trancafiados em seu apartamento em Manhattan, mas que aos poucos começam a descobrir o mundo lá fora. Durante o tempo trancados dentro de casa, os irmãos assistiam a milhares de filmes, e para passar o tempo eles ainda encenavam seus longas favoritos, como Reservoir Dogs (1992), Pulp Fiction (1994) e The Dark Knight (2008). É um documentário que eu custei a acreditar que fosse real.

O Mito da Caverna de Platão moderno. Sete jovens presos dentro de casa, somente assistindo a filmes, encenando-os, escrevendo, ouvindo música, cozinhando e conversando entre eles, sem conexão maior com o mundo fora das paredes. Sua mãe os ensina em casa, logo eles não frequentam a escola, pois segundo a própria, as experiências vividas na escola não são positivas. Seu pai acreditava que o governo era uma sociedade secreta e que mantinha seus cidadãos como robôs, e não queria que seus filhos fossem influenciados pela filosofia e religião, por isso trancou os sete em seu apartamento, para que descobrissem quem eles eram sem a influência externa. É tão surpreendente que eu queria muito que fosse um mockumentary, tanto pela história melancólica dessa família, quanto pela profundidade em questões que poderiam ter sido abordadas. Por ser um documentário biográfico desses jovens, não há muita profundidade nas questões existencialistas que eles nos apresentam, há apenas depoimentos dos membros da família sobre isso, o que eles pensavam que estavam fazendo, como se sentiam, do porquê faziam isso e tudo mais, o que é bem interessante, é claro. Mas por ser um tema tão complexo, poderia ter sido mais bem abordado se fosse uma obra de ficção baseado em fatos, creio eu.

É bem divertida a forma que eles encenam os filmes, a criatividade deles em montar o figurino, na organização em montar os roteiros e nas atuações muito legais também. Mais divertido ainda é vê-los saindo de casa aos poucos e descobrindo o novo mundo que eles só viam nos filmes. As roupas que eles vestem fora de casa parecem figurinos de Filmes B, visto a influência dos longas na vida deles. Interessante observar o dilema tanto dos jovens que não tem voz dentro de casa, tendo uma mãe submissa mas que é a sanidade deles naquele local, e um pai autoritário, quanto da mãe que cuida dos filhos o tempo todo e o pai que se isola do mundo por questões existencialistas que ele nos traz. The Wolfpack é um documentário que funciona bem, traz um peso com seus dilemas existencialistas ao mesmo tempo em que nos diverte com a relação dos irmãos e o descobrimento das coisas. Pela originalidade, vale muito a pena ser visto, e dou uma nota 9,5, pois penso que poderia ter sido um pouquinho melhor. 

Brooklyn

Direção: John Crowley, 2015.
Um drama romântico sobre um coração e dois mundos. O filme conta a história de Ellis Lacey (Saoirse Ronan), uma jovem irlandesa que não vê muito futuro continuando em seu país, e com o apoio de sua irmã resolve mudar-se para Nova Iorque em busca de uma nova vida. Nessa nova terra desconhecida, Ellis conhece várias pessoas, sente-se deslocada no início mas aos poucos Nova Iorque vai ganhando sua alma.

A história se passa na década de 1950, e é muito bem ambientada no filme, com figurinos e uma direção de arte ótimos, um fotografia belíssima também, que dão um toque de modernidade e antigo ao mesmo tempo, com cores muito vivas. Ellis vai morar no bairro do Brooklyn, daí o título do filme, e vemos nessa região de Nova Iorque os vários imigrantes de diferentes etnias que vieram em busca de uma nova vida, aqui principalmente os irlandeses e italianos. O romance do filme por parte de Ellis e seu parceiro italiano Tony (Emory Cohen) funciona muito bem, gostei muito da sintonia dos dois e me envolvi bastante nesse relacionamento. 

O longa não busca uma inovação nos gêneros e repete a mesma fórmula com vários clichês, mas que funcionam bem. Várias vezes me peguei sorrindo e outras chorando, pois tem uma boa dose de tragédia também, o que gera um bom trabalho de atuação, principalmente por parte de Saoirse Ronan, a protagonista. Creio que a partir da metade o filme se arrasta um pouco: sem querer dar muito spoiler, há uma hora em que Ellis retorna para a Irlanda, e eu não me envolvi tanto nesse núcleo quanto em Nova Iorque. Brooklyn é um filme lindo, fofo, meigo e trágico. Um pouco conservador às vezes, e que não busca problematizar tantos aspectos daquela época e sociedade, mas em alguns momentos traz alguns questionamentos importantes. Para mim o filme funcionou muito bem, e com uma nota 9 o filme ganhou meu coração, assim como Nova Iorque ganhou o de Ellis.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

The Revenant

Direção: Alejandro Iñarritu, 2016.
Um excelente filme sobre sobrevivência. O filme conta a história de Glass, um explorador que está com sua equipe desbravando o oeste norte americano no século XIX. Esses exploradores acabam sendo atacados por nativos americanos, e os que restaram da equipe tem que fugir para se salvar. Após a fuga, com um número bem menor de pessoas, Glass é atacado ferozmente por um urso cinzento, mas acaba sobrevivendo por um triz. A equipe, então, luta pela vida de Glass, que acaba sendo um peso muito grande para a sobrevivência de toda a equipe, que o abandona à beira da morte. Glass vê-se obrigado a sobreviver sozinho nesse oeste americano, frente ao frio e ao desconhecido.

O diretor é Alejandro González Iñarritu, que venceu o Oscar por Birdman (2014), e aqui traz novamente alguns de seus elementos marcantes, como o plano sequência tão comentando em seu último trabalho. Em The Revenant (2016), os cortes são mais claros e os planos sequências funcionam muito bem; destaco a batalha entre os nativos americanos e a equipe de exploradores onde há um plano muito bem dirigido e editado. O longa se passa em florestas no deserto norte americano ainda não desbravado, numa região com muita neve, árvores e animais silvestres, o que dá vários objetos para uma fotografia fantástica, e isso é muito bem aproveitado aqui: a fotografia é incrivelmente linda, provavelmente a melhor dos últimos anos. O filme é longo, duas horas e meia, e o ritmo é um pouco lento, pois parte das cenas são de Glass sozinho tentando sobreviver, com pouquíssimos diálogos, focando nas expressões corporais do ator e na fotografia do filme.

É difícil escrever sobre o elenco, pois temos Leonardo DiCaprio como protagonista, e Tom Hardy como coadjuvante. Particularmente, eu amo DiCaprio e seus filmes, desde This Boy’s Life (1993) e What’s Eating Gilbert Grape (1993), e ver seu crescimento como ator por mais de 20 anos é fantástico. Aqui, DiCaprio interpreta Glass, que luta por sua vida na selva norte americana em meio ao frio mortal, e com uma atuação contida, mas excelente, ganha o filme e mais uma indicação ao Oscar facilmente. Vemos nesse filme um contraponto da atuação de DiCaprio em The Wolf Of Wall Street (2013). Tom Hardy interpreta o antagonista, que acaba deixando Glass sozinho, influenciando toda sua equipe para isso. A sintonia dos dois é bem interessante, e Tom Hardy está irreconhecível, gosto bastante do trabalho dele também.


Por fim, destaco a cena final dos dois, o clímax do filme, com atuações, direção, edição, fotografia, mixagem de som e maquiagem muito bem feitos. Creio que um ponto fraco seja realmente o roteiro, mas não achei algo que pesasse muito, pois os aspectos positivos sobressaem a isso. Um filme de Oscar, não ficaria surpreso se ganhasse a estatueta de Melhor Filme, Melhor Ator e Fotografia, como Melhor Diretor penso que não, pois Iñarritu já levou o último prêmio da academia. Nota entre 9,5 e 10, pois sou chato para dar um 10 para qualquer filme.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Dog Day Afternoon

Direção: Sidney Lumet, 1975.
Um filme tenso sobre um assalto real. O filme é baseado em fatos, e conta a história de um assalto a banco em 1972 no verão de Nova Iorque. Al Pacino interpreta Sony, um cara ferrado que planeja roubar um banco com dois parceiros, porém algumas coisas saem do plano inicial e eles têm que improvisar para dar tudo certo no final.


Al Pacino carrega o filme nas costas. Com uma atuação impecável e um roteiro excelente, Pacino nos faz torcer pelo vilão, o assaltante, mas que tem os seus motivos para seus atos, que vão sendo revelados ao longo do filme e que achei sensacional. Quando digo que ele “carrega o filme nas costas”, não é que o filme seja bom apenas por ele, mas creio que se fosse outro ator (exceto Jack Nicholson e Robert De Niro), seria apenas um filme mediano. Há uma sintonia muito boa do Pacino com todos os personagens aqui, ele realmente está espetacular, com diálogos incríveis e um desenvolvimento de personagem ótimo, infelizmente não levou o Oscar, pois tinha como concorrente Jack Nicholson em One Flew Over The Cuckoo’s Nest (1975). O filme é um pouco longo, duas horas de duração para contar um assalto de uma tarde, mas tem um ritmo bacana, e alguns alívios cômicos nervosos para a tensão que o longa estabelece. Alguns temas são abordados sutilmente, mas que são essenciais e importantíssimos não só para o desenrolar da história, mas para a sociedade da época, como o exibicionismo midiático ao redor de uma tragédia, o descontentamento da população para com a policia, e o despreparo dos policias para algumas situações, além, é claro, do desespero do personagem em conseguir dinheiro para um objetivo especial. É um filme bem competente, com uma boa direção, atuações e roteiro excelentes, talvez peque por ser um pouco longo, e por isso considero um filme nota 9, mas um 10 pela atuação do Pacino não seria nada ruim.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Before I Go To Sleep

Direção: Rowan Joffe, 2014.
Um suspense dramático bem realizado. O filme conta a história de Christine, uma mulher que sofre de um tipo de amnésia, e todos os dias quando acorda não se lembra do que fez nos dias anteriores. Christine já tem 40 anos, e após um suposto acidente ocorrido há dez anos, quando acorda lembra-se somente de sua vida até seus 20 anos. Há mais dois personagens principais, seu marido Ben, e seu médico, porém com o passar dos dias Christine percebe que há algo errado e que um dos dois mente para ela sobre sua vida.


Temos aqui uma história não muito original, mas ainda assim interessante e muito bem trabalhada. O ritmo do longa é bom e o filme te prende bastante, pois há muitas reviravoltas na história a cada descoberta de Christine, interpretada magistralmente pela Nicole Kidman. O clima é bem tenso, com a ajuda da iluminação, trilha sonora e as atuações, aqui principalmente do Colin Firth, que faz o papel de Ben. Christine faz o uso de uma câmera que grava um pouco de seu dia, para que ela possa ver e se lembrar no dia seguinte, e assim vai descobrindo algumas coisas sobre seu passado que tentam esconder dela, e que para mim funcionou muito bem, algumas um pouco previsíveis, mas bem feitas. Pela história bem contada e as atuações muito boas, dou uma nota 8 para o filme, um bom filme de suspense, com uma boa ambientação e uma carga dramática pesada.

2 Coelhos

Direção: Afonso Poyart, 2012.
Um longa nacional de crime. O filme conta a história de Edgar, um rapaz que quando criança era muito bom com vídeo games e eletrônicos, porém agora adulto não é tão bem sucedido quanto poderia ser. Como a sua vida não está muito bem planejada, Edgar bola um plano para mudar tudo isso e conseguir uma bela grana, utilizando da teia de informações que o filme constrói muito bem.


A história é narrada por Edgar, de forma não cronológica, mas que cada trecho se encaixa na trama perfeitamente, um pouco parecido com Cidade de Deus (2002), onde temos Buscapé como narrador e conta a história de alguns personagens de forma não cronológica, indo e voltando no tempo conforme os acontecimentos vãos se encaixando. Por haver essa ordem temporal, devo destacar a edição e a montagem que funcionam muito bem dessa forma, não deixando o espectador perdido no tempo e nos acontecimentos. Aqui, todos os personagens estão interligados; há o núcleo dos políticos, o núcleo dos assaltantes, a mulher amante e outros clichês que conhecemos das novelas globais. Achei muito boa a escolha da trilha sonora também, que vai de Lenine, passando por Matanza, Radiohead, 30 Seconds To Mars e Avassaladores, o que mostra uma versatilidade de sentimentos nos personagens e nas cenas, umas cômicas, outras com bastante ação, e outras bem dramáticas e trágicas. O elenco traz Alessandra Negrini e Caco Ciocler como atores já renomados no Brasil, e outros um pouco desconhecidos e que não comprometem o filme, com atuações firmes, algumas um pouco caricaturescas, mas que funcionam de certa forma. As soluções dos problemas chegam a ser um pouco previsíveis, mas é bem interessante a forma que o longa aborda isso com o uso da edição e montagem do filme. Achei muito interessante esse filme, que com uma nota entre 7 e 8 me surpreendeu positivamente, pois é sempre bom ver um filme nacional que não seja uma comédia esdruxula, e que por mais que não seja muito original, funciona muito bem.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Area 51

Direção: Oren Peli, 2015.
Um found footage horrível com alienígenas. O filme conta a história de um grupo de amigos que decide investigar o que há na famosa Área 51, uma base estado-unidense que supostamente contém corpos de extraterrestes. Já não é uma das ideias mais originais que existe, e ainda mais com um found footage fica ainda mais clichê, porém existem casos que isso dá certo, o que não acontece por aqui, infelizmente. Eu queria sentir pelo menos um pouco de medo com esse filme, pois ele se vende como um suspense e terror, só que nada dá certo.


No final do filme eu fiquei com aquele gosto amargo na boca, pois o longa tem um ritmo bacana até, o desenrolar da história é OK, você finge acreditar para o filme não perder a graça, mas quando chega ao final, é uma catástrofe. Além disso, quando acabou o filme eu tive aquela sensação de já ter visto o filme em outro local... mas é claro: The Blair Witch Project (1999). Só há uma pequena diferença de 15 anos entre um e outro. O filme acaba mostrando alguns alienígenas, e eles são extremamente genéricos: esverdeados, finos, com uma cabeça e olhos grandes; ou seja, não dão medo, pois nós já conhecemos essa figura, e em quase nenhum momento do filme eles nos apresentam um ser perigoso. Fiquei com mais medo que os garotos fossem pegos pela polícia e não pelos alienígenas! E quando você sente isso num filme de terror sobre alienígenas é sinal que tem algo muito errado, mesmo. O filme realmente não funciona, não há jumpscare que eu lembre (se tiver, foi tão ruim que nem considerei como jumpscare), a história não é plausível (4 jovens invadem tranquilamente a Área 51), e o final, socorro, que desastre. É terrível, um filme que erra em quase tudo, darei uma nota 2 pra ser simpático com os extraterrestres. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Adventureland

Direção: Greg Mottola, 2009.
Uma comédia romântica dramática jovem. O filme conta a história de James, um garoto que acabou de se formar na faculdade e planeja passar as férias de verão na Europa com seu amigo, porém esses planos são frustrados, pois sua família acaba passando por dificuldades financeiras e não pode bancar essa viagem. Assim, James tem que abandonar essa ideia e arrumar um emprego de verão para juntar dinheiro e seguir sua carreira em Nova Iorque no próximo semestre. Por não ter nenhum emprego real em seu currículo, o único local que o aceita é um parque de diversões barato em sua cidade, com brinquedos precários e jogos de fliperama. Agora, James tem que lidar com esse novo meio social que se constitui em volta dele com seus colegas de trabalho.


A história é ambientada nos anos 80, e o longa nos mostra isso com várias referências visuais e musicais, tanto no figurino como na trilha sonora. As famosas férias de verão norte americana são retratadas aqui por um grupo de jovens, cada um com seus problemas e relações familiares distintas, e achei muito interessante a abordagem que o filme traz em relação às várias situações particulares dos personagens, com seus romances de verão, conflito com os pais e amigos de infância e os novos. Gostei bastante do elenco, onde temos como protagonistas o casal constituído por Jesse Eisenberg e Kristen Stewart, que nos apresentam uma sintonia muito boa entre eles e um amor um tanto quanto conturbado, mas que você compra pela história e atuação dos dois. Apesar de parecer uma comédia romântica boba adolescente, eu notei muito mais que isso no filme; há situações cômicas e um romance entre jovens, porém o que me surpreendeu positivamente é o retrato dos jovens oitentistas, os laços de amizade que constituem entre eles no longa, e o conflito de gerações representado pelos problemas familiares, que já vimos muito em filmes do John Hughes por exemplo. É por todos esses elementos que eu gostei bastante desse filme, considero uma nota 9 pelo que ele nos apresenta, e dentre tantas comédias românticas adolescentes atuais é algo que com certeza se sobressai.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

My Own Private Idaho

Direção: Gus Van Sant, 1991.
Um drama sobre garotos de programa. O filme conta a história de dois garotos, Mike e Scott, vividos por River Phoenix e Keanu Reeves, respectivamente. Ambos são garotos de programa, e no de correr do longa acabam fazendo uma viajem sozinhos em busca da mãe de Mike. Scott é um rapaz abastado que não tem boas relações com seu pai, enquanto Mike é um garoto que tem narcolepsia, e isso para um garoto de programa não é algo muito bom.

O filme é de 1991, e os temas prostituição e homossexualidade são abordados de formas naturais, sem preconceito e asco. Várias vezes eu me perguntei como é que a sociedade brasileira receberia esse filme em 1991, pois mesmo não contendo cenas de sexo explícito, aborda esses dois temas tabus na sociedade. Falando em cenas de sexo, há pelo menos duas que são belíssimas: são apenas alguns takes de pessoas nuas em várias posições, calmo, em silêncio, nos dando a oportunidade de apreciar aquele momento. O elenco do filme é ótimo, Keanu está impecável, mas destaco aqui River Phoenix, que é muito competente em seus trabalhos e aqui está excelente. A fotografia do longa também é muito boa; algumas vezes a câmera vai para um plano aberto e esses momentos são belíssimos. Sem dar spoiler, gostaria de destacar outra cena, onde está dois grupos num cemitério, isso já no ato final do filme, e percebemos bem as diferenças entre eles nesse momento fúnebre. My Own Private Idaho é um filme sensacional que aborda alguns temas tabus e merece com certeza ser visto por todos, com uma nota 9, eu recomento à todos.


Antes de finalizar, gostaria de deixar uma homenagem a River Phoenix, que infelizmente faleceu no ano em que nasci, 1993. Foi impossível para mim não compará-lo com Leonardo DiCaprio, pois além da semelhança física se demonstrava um excelente ator, e mesmo tendo falecido quando eu era apenas um bebê, quando soube dessa perda de talento, senti muito pois gostaria demais que ele tivesse uma longa carreira e pudéssemos aproveitar tudo o que River Phoenix poderia nos oferecer. Porém, veio a falecer em 1993 com apenas 23 anos, e uma carreira toda pela frente, que eu gostaria muitíssimo de ter acompanhado.

Mindscape

Direção: Jorge Dorado, 2010.
Um suspense com uma premissa muito boa, mas que poderia ser melhor. O filme conta a história de um homem que tem a habilidade de rever as memórias das pessoas e uma garota um pouco suspeita. Esse homem é contratado para investigar as memórias da garota, que é interpretada pela Taissa Farmiga, pois ela é de uma família muito rica, está em greve de fome há uma semana e o seu passado é um pouco conturbado. O cara inicia então as sessões com a garota para investigar seu passado em suas memórias, e assim se desenrola o filme.


Por conter essas sessões onde ele entra na mente dela, me lembrou um pouco de Inception (2010), só que muito menos explorado e o diretor não é o Nolan, e não tem DiCaprio no elenco. Há algumas partes bem interessantes onde ele investiga suas memórias, onde aparece uma dualidade na personalidade da garota e você se envolve nessa trama pra descobrir o final. O elenco não é surpreendente mas é competente, ninguém compromete o filme mas também não há ninguém em destaque.  Eu queria muito algum plot twist no final do filme, mas a resolução do problema e o último ato todo ficaram bastante clichê e o filme decaiu um pouco, infelizmente. Gostaria realmente de ver um longa com essa premissa explorando melhor a ideia de investigas as memórias dos outros, com um pouco mais de duração e numa pegada Inception mesmo, com algumas sessões de oclumência vide Harry & Snape. Até o ato final o filme segue bem interessante, porém nada excepcional, e o ato final deixa um pouco a desejar, por isso considero um longa nota 7, e vale a pena ser visto por quem gosta desse tipo de suspense. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Stand By Me

Direção: Rob Reiner, 1986.
Um belíssimo filme dramático sobre amizade e outras coisas. O filme conta a história de quatro amigos com seus 12 anos, que descobrem a localização de um cadáver e resolvem tirar um final de semana para ir vê-lo. Os quatro amigos acabam indo em direção à esse cadáver e até chegar lá acabam passando por diversas situação que desafiam essa amizade infantil, e que acabam por fortalecer os laços de amizade entre eles e os engrandecem como pessoas em vários sentidos. O filme é baseado em um conto do Stephen King, e mesmo sendo reconhecido como o Mestre do Terror, pelo menos três filmes baseados em seus contos são dramas fortes, intensos e belíssimos: os conhecidos e premiados The Shawshank Redemption (1994) e The Green Mile (1999), e este sobre o qual escrevo.


Pelo menos dois aspectos me chamaram a atenção positivamente para além da trama do filme: a fotografia e a trilha sonora. A fotografia do filme é lindíssima: por se passar boa parte da história nos arredores de uma floresta e dentro dela, há muitos planos aberto e o uso de bastante verde, além de algumas cenas em pontes muito encantadoras. O filme é oitentista, mas a história se passa no verão de 1959, então a trilha sonora é muito forte com músicas dessa década, e são músicas bem animadas e alegres até, onde em algumas vezes os próprios personagens as cantam, como num musical. Toda a ambientação da década de 1950 está muito bem realizada nesse filme: sentimo-nos pertencentes a essa época. O elenco, apesar de ser mirim, é bem competente, creio que não comprometem em seus papéis. Mas o destaque entre os personagens não fica realmente na atuação, mas sim no roteiro e nos laços que são criados a partir dele, dos diálogos entre os personagens e a amizade verossímil entre eles. A interação entre os personagens nos faz sentir saudades da nossa infância e das amizades juvenis, porém verdadeiras que tínhamos. O final é muito bem escrito, e a mensagem é linda, triste, e muito real. Para quem adorou The Outsiders (1983) ou outros filmes do gênero, Stand By Me é imperdível, e um nota 9 está bom para o filme, mas 9,5 não seria exagero também.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

It

Direção: Tommy Lee Wallace, 1990.
Um excelente filme de horror. O filme conta a história de sete crianças que vivem numa cidade do Maine (USA), que acabam tendo laços de amizade fortalecidos por todas serem atacadas por os bully da escola e por It, A Coisa. Nessa cidade, de tempos em tempos, It ressurge para fazer mais vítimas, e sete crianças acabaram sobrevivendo na sua última passagem, e anos depois A Coisa volta para assombrar novamente essas pessoas. Agora, já adultas, elas se reencontram para tentar acabar com essa maldição. Por essa questão temporal, o filme oscila entre passado e presente, ora nos mostra o que aconteceu quando eram crianças e seu primeiro contato com A Coisa, ora nos mostra o reencontro dessas pessoas e como estão suas vidas agora. Baseado numa obra de Stephen King, It é uma das melhores adaptações do escritor e um clássico dos filmes de terror, imperdível para quem é fã do gênero. It, A Coisa, aparecia inúmeras vezes para as crianças na forma de um palhaço chamado Pennywise, que está tremendamente assustador aqui. Gracioso anos 90, sem CGI e com muitos efeitos práticos, deixando essa “Obra prima do medo” ainda mais real. Pennywise é um palhaço macabro que aparece em diversos lugares para suas vítimas, e com sua conversa e truques baratos (como balões), acaba seduzindo essas inocentes almas. As aparições de It (ou A Coisa, ou Pennywise) são tremendamente aterrorizantes e perturbadoras, tanto para alguém adulto e muito mais ainda para qualquer criança, o público alvo do palhaço. O gore do filme é essencial, porém não em excesso, e o que realmente traz o terror para o filme é A Coisa. 

A trama é muito bem trabalhada, creio que seja uma adaptação fiel (não li o livro), pois são três horas de filme, então não há motivo para encherem linguiça; a obra de King realmente é extensa, então espero que essas três horas que tenham sido bem aproveitadas. Ainda assim é longo para um filme de terror: a primeira hora é sobre a origem deles, como os sete se conheceram, se juntaram e viram pela primeira vez a coisa, intercalando com seu presente; a segunda hora é sobre o reencontro deles e a volta d’A Coisa; e a última hora é o desfecho da trama, o reencontro deles com A Coisa e seus finais. Os atores enquanto crianças funcionam muito bem, o problema é quando eles crescem; assim como em outras adaptações do King, o elenco é fraco, não conseguem carregar a responsabilidade da obra para si e pecam no filme por isso. Falando em elenco, infelizmente o filme conta com apenas uma mulher no elenco principal, com outros seis homens, o que me incomodou bastante. It é um longa clássico de terror muito bem feito, com um elenco não muito forte, um pouco extenso, porém extremamente bem elaborado e com uma ótima dose de horror que o bom e velho Stephen King sabe fazer, com uma nota 8,5 eu fico feliz ter assistido ele quando adulto apenas, pois se fosse quando criança eu provavelmente teria coulrofobia. 

The Gift

Direção: Joel Edgerton, 2015.
Um ótimo filme de suspense e terror psicológico. O longa conta a história de um casal, Simon e Robyn, felizes e bem sucedidos e que resolvem se mudar. Compram uma nova casa, conhecem novas pessoas, entre elas um antigo colega de classe de Simon, chamado Gordon. Esse novo velho conhecido acaba sendo um pouco inoportuno e enviando presentes para o casal, tentando estabelecer uma amizade por ali. Há um ar sombrio bem feito aqui, muito por conta das atuações que estão impecáveis e do roteiro bem trabalhado e crível. 

Os três atores principais estão muito bem, o casal tem uma sintonia boa, mas queria destacar Joel Edgerton, que além de interpretar Gordon, escreveu e dirigiu o filme. O roteiro é bem escrito e muito atual, há algumas reviravoltas ao decorrer do longa que te pegam de surpresa e isso é ótimo, pois nada aqui fica parecendo óbvio e previsível, e o final é simplesmente incrível. É um daqueles finais que deixam uma dúvida e que gera um debate após o término do filme, e que talvez nunca saibamos o que aconteceu realmente; mas isso que é bom, dar asas à imaginação do espectador, onde cada um pode especular o que lhe for mais plausível. Sem dar spoiler, só queria comentar que o Kevin Spacey daria um excelente Gordon. Com tantos filmes de suspense e terror atuais tão óbvios e sem graça, que não te deixam aflito nem te assustam, esse filme utiliza pouco do jumpscare, mas esse pouco é bem funcional, e o clima inquietante que ele causa é que mais impacta nesse filme, além da boa reflexão que você faz após o término. Com uma nota entre 9 e 10, recomendo à todos esse belíssimo filme, e lembrem-se: você pode esquecer do passado, mas o passado pode não esquecer de você.

domingo, 29 de novembro de 2015

What We Do In The Shadows

Direção: Jemaine Clement,
Taika Waititi, 2014.
Um mockumentary neo-zelandês genial de comédia. Esse falso documentário conta a história de quatro amigos que dividem um quarto na Nova Zelândia, e são vampiros! É incrível o quão sensacional esse filme consegue ser, o quão original apesar de tantos filmes sobre vampiros (paródias ou não) terem surgido após o lançamento de Twilight em 2008. Cada vampiro tem a sua personalidade e eles têm que aprender a conviver juntos, respeitando suas individualidades e exercendo as tarefas domésticas essenciais, como lavar a louça suja (de sangue). Existem também outros monstros na cidade, como zumbis, bruxas e claro, seus rivais lobisomens.  O longa consegue atualizar muito bem esses seres, de uma forma crível e cômica, mostrando como que em pleno século XXI os vampiros conseguem suas vítimas, como que eles se arrumam para sair se não há reflexo no espelho, como os lobisomens se preocupam em não destruir tudo quando é lua cheia, etc.

Os efeitos práticos do filme são perfeitos para um mockumentary, sem muito CGI, não há muito gore e algumas partes são até censuradas (colocado um borrão), por realmente querer parecer um documentário. Os atores são ótimos, o roteiro é genial e as piadas funcionam muito bem. Considero um filme nota 10 por sua originalidade e por funcionar tão bem no jeito como foi pensado; se não fosse um mockumentary talvez não tivesse ficado tão engraçado. 

Another Me

Direção: Isabel Coixet, 2013.
Um filme terrível de terror. O filme conta a história de uma garota que começa a ver uma pessoa igual a ela e que começa a tentar roubar a sua identidade. A atriz principal é Sophie Turner, e talvez a única coisa que preste nesse filme; Sophie não é uma má atriz, mas o filme a desperdiça, pois não sabe qual história quer contar. Achei a trama principal bem interessante, mas muito pouco abordada no filme e muito má trabalhada; o filme tenta passar um clima de suspense e mistério, mas em nenhum momento nos deixa aflito ou com medo. 

Há outras subtramas que são completamente descartáveis, como o romance adolescente da Sophie com seu colega de escola. Até gostei do romance dos dois, mas como o filme não explorou o mistério e suspense essencial para o filme ser bom, não contribuiu em nada para a história. Contém ainda cenas bastantes clichês, de perseguição por algo desconhecido, mas que não conseguem amedrontar ninguém. Por ser um filme tão ruim, o final me surpreendeu um pouco, pois não achava que o filme poderia me apresentar algo bom, algo que eu não esperava, por ser tão óbvio e ruim o tempo todo. É um longa de terror péssimo que em momento algum te amedronta, foca em subtramas desnecessárias e merece no máximo um 4,5 pela Sophie Turner e o final não tão terrível como o resto do filme.

sábado, 28 de novembro de 2015

Hot Fuzz

Direção: Edgar Wright, 2007.
Uma sensacional comédia policial inglesa. O filme conta a história de um policial de Londres que acaba sendo transferido para uma vila no interior. O policial, interpretado pelo ótimo Simon Pegg, não se sente confortável nessa nova cidade, pois lá “nada acontece”, é tudo muito calmo, e com toda sua atenção e perspicácia acaba notando alguns fatos estranhos acontecendo, e decide investigar um pouco. Sem dar muito spoiler, a trama do longa é basicamente esta, e além de Simon Pegg, conta também com Nick Frost no elenco, e Edgar Wright na direção. Hot Fuzz é o segundo filme de uma trilogia, tendo como ponto inicial Shaun Of The Dead (2004), uma comédia de zumbis, e finalizada com The World’s End (2013), uma comédia de ficção científica. 

É interessante observar que nesse filme (nos outros citados também), o humor não está apenas em piadas contadas pelos atores, mas sim na direção, e principalmente na edição, é um humor visual hilário. Creio que o filme fica ainda mais engraçado pra quem gosta bastante de filmes policiais; eu não sou um grande fã e não conheço muito, e mesmo assim consegui pegar algumas referências nesse filme, mas tenho certeza que perdi várias e com isso algumas piadas. Como o longa é uma sátira de filmes policiais, tem muita ação nele, principalmente no ato final: pra quem gosta de porrada e tiros, tem uma boa dose nesse filme. São duas horas de filme, e por ser um filme de comédia acho que fica um pouco cansativo, mas há ainda outro elemento que te prende a atenção: um pouco de suspense e mistério; como todo bom filme policial, tem uma investigação bem elaborada aqui. É um filme imperdível pra quem gosta de comédia, humor inglês e ação policial, com uma nota 8,5 eu assistiria tanto esse quanto os outros dois citados com toda certeza, numa mini maratona tomando uma cerveja e dando boas risadas.

V/H/S

Direção: Adam Wingard, Chad Villella,
David Bruckner, Glenn McQuaid, Joe
Swanberg, Justin Martinez, Matt Bettinelli-Olpin,
Ti West, Tyler Gillett, 2012.
Um filme de terror no estilo found footage. O filme conta a história de um grupo de amigos (bem babacas, escrotos e nojentos), que filmam suas “atividades ilícitas” com uma câmera antiga, e uma dessas atividades consiste em roubar uma fita VHS em uma casa. Ao entrar nessa casa eles percebem que o morador está morto, e mesmo assim vão atrás da fita específica, porém nessa casa há uma coleção de fitas VHS e os amigos acabam assistindo algumas enquanto procuram. Considero que o foco principal não é nessa história, mas sim nas histórias que estão nas fitas, pois o filme parece que na realidade são vários curtas de uns 20 a 30 minutos, e que utilizam a história do roubo de uma fita para juntá-los num filme. Ora nós vemos o que está acontecendo na casa das fitas, e ora nós vemos esses pequenos curtas. Por ser um filme de terror, ele contém alguns jumpscares e uma boa dose de gore, mas o interessante é o clima de aflição e suspense no ar que ele deixa, pela má qualidade das imagens e o repleto desconhecimento das histórias que estão por vir. 

Todas essas histórias das fitas poderiam virar filmes de terror sólidos, uns mais bizarros que os outros, uns mais gore e outros mais de assombração e fantasmas. Li um comentário que dizia que esse filme é uma “Coletânea da Deep Web”, e é uma boa forma de resumir o filme, mas bem light talvez. Ao final da maioria dessas fitas que o grupo assiste, eu me peguei com um cara de nojo e total falta de noção do que tinha acabado de ver, de tão surreal e bizarro que eram, porém elas funcionam de certa forma, não é de todo o ruim. Pela curiosidade que os pequenos curtas trazem, algumas doses de jumpscares e gore, considero um filme entre 6 e 6,5.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Gravity

Direção: Alfonso Cuarón, 2013.
Uma aula de cinema transformada em filme espacial. A história do filme não é muito original, pois vários filmes que tem espaço como seu principal ambiente são parecidos: uma missão espacial que não deu tão certo e os sobreviventes tem que voltar para a terra. Nessa trama temos apenas dois personagens principais, interpretados por Sandra Bullock e George Clooney, que fazem muito bem o seu papel, e o destaque maior fica para Bullock, que nos faz viver suas emoções. Mas essa vivência do espectador não apenas de uma personagem: é do filme todo! Ficamos aflitos com os problemas que ocorrem no espaço, com a falta de oxigênio, com o desaparecimento de colegas, com destroços espaciais voando, com a escuridão infinita ao seu redor. Além das atuações, eu pontuo pelo menos três fatores principais que transpassam o filme para nós: a direção de Alfonso Cuarón, a fotografia e mixagem de som. Cuarón nos traz pra dentro do espaço, ora somos Sandra Bullock, ora somos George Clooney, e ora somos outro parceiro qualquer que possa estar com eles. Sentimos a gravidade zero (se é que me entendem), os objetos e corpos flutuando, tudo lindo, cada cena tem algo que te choca e te encanta, que te faz ficar aflito e morrendo de medo pela solidão que é o espaço. Gigante e escuro, iluminado pelo sol e seu reflexo nas estrelas. 

A Terra está linda, o sol nascendo de um lado do planeta, as luzes acessas nas casas do outro lado quando é noite, você queria estar lá em cima com eles, a fotografia te encanta. Mas às vezes é silêncio, sem oxigênio, escuro, isolado, sombrio e sufocante. Não há som, não há luz, e a única certeza é a solidão e morte: os poderes que a mixagem de som combinada com a fotografia lhe oferece nesse filme são incríveis, além, é claro, dos excelentes efeitos visuais necessários e impecáveis. O único ponto franco realmente fica na trama, ela funciona, é claro, mas é um pouco genérica, só que não estraga o filme por isso, e ele continua sendo uma obra linda. Amantes de filmes espaciais, de ação, de romance, de comédia, de aventura, de ficção científica... Amantes do cinema, vejamos esse filme! Nota 9,5, se a história em si fosse um pouco melhor trabalhada quem sabe valeria um 10.

The Visit

Direção: M. Night Shyamalan, 2015.
O novo filme de suspense de M. Night Shyamalan. O longa conta a história de dois irmãos, Becca e Tyler, que vão passar uma semana na casa de seus avós que nunca conheceram. A trama é simples, mas muito interessante e bem dirigida. Após o grande estrondo que foi The Sixth Sense em 1999, a carreira de Shyamalan decaiu consideravelmente, mas em The Visit ele demonstra que ainda sabe fazer cinema. O filme conta com um plot twist legalzinho, cenas de mistério e suspense boas e alguns jumpscare que funcionam. O filme é todo filmado em primeira pessoa, por duas câmeras, pois Becca está querendo fazer um documentário, então cada um dos irmãos empunha uma câmera e passa a gravar a semana naquela casa desconhecida com seus avós. Depois de mais de quinze anos de The Blair Witch Project, a onda de filmes de terror e suspense em primeira pessoa parece ainda não ter encerrado, mas aqui essa técnica funciona, pois não parece jogada no roteiro sem nexo nenhum com a história, e as cenas são bem filmadas e editadas. 

Algumas pessoas consideram até como um filme de comédia de terror, pois contém várias partes engraçadas encenadas pelos protagonistas que tem uma sintonia muito boa frente ás câmeras, mas eu acho que o foco maior aqui é realmente o mistério que envolve essa casa e os avós. Shyamalan retorna com um bom filme, não muito original, mas funcional do que se propõe a fazer, e ainda conta com uma das marcas essenciais do diretor, o plot twist, que é bem interessante até. Enfim, pra quem gosta de suspense, filmes em primeira pessoa e alguns jumpscare, o filme vale a pena sim: nota 8. 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Maze Runner

Direção: Wes Ball, 2014.
The Maze Runner


Uma saga adolescente pós-apocalíptica não focada no romance. O filme conta a história de Thomas e um grupo de amigos que estão presos num lugar com um enorme labirinto. Nesse primeiro filme, o foco é no labirinto: os segredos que ele guarda e como escapar dali passando por ele. Thomas é novato nesse local, e acaba tendo alguns embates com outros personagens, mas logo faz amigos e ele mostra o seu “título de protagonista”. Esse protagonismo dele me incomodou ao longo dos filmes, pois ele é “O Eleito”, é o cara que pode salvar o mundo e apesar de tudo o que acontece ao redor dele, ele não é atingido por nada. Thomas é um cara curioso e impulsivo que se mete em várias situações inimagináveis, mas como é o protagonista, nada lhe acontece e ele escapa de boa, e às vezes isso é muito forçado e você tem que ignorar o que aconteceu, pois “o protagonista não pode morrer”. Outro problema é que o elenco conta apenas uma personagem feminina (mesmo!). A princípio achei que ela estaria ali apenas para fazer o par romântico essencial dos filmes, mas ela se mostrou ser mais do que isso. Como falei no começo, o filme não é focado no romance: apesar da inserção dessa garota, a trama é focada no mistério e suspense, em como essas pessoas poderão escapar do local, o que é bem interessante, mas não é trabalhado crivelmente. Outra coisa que me incomodou um pouco foram algumas cenas de ação: muita câmera tremida, pouca iluminação e cortes rápidos demais, o que dá uma sensação de confusão. Achei as atuações OK, nada com grande destaque nesse filme. Como início de uma saga, achei o enredo bem trabalhado, a história bem contada e com uma nota 7,5 veria o filme novamente (até porque o final só sai em 2017).

Direção: Wes Ball, 2015.
Maze Runner: The Scorch Trials

Uma saga adolescente pós-apocalíptica não focada no romance. Agora, Thomas e seus amigos conseguiram escapar do labirinto e estão confinados num grande laboratório para repousarem. Aos poucos, Thomas “O Curioso” percebe coisas estranhas no local e acha melhor tentar escapar novamente. Basicamente, o segundo filme tem os mesmos problemas do primeiro: protagonismo exacerbado, poucas personagens femininas e má direção em cenas de ação. Um ponto positivo aqui é a fotografia que me impressionou algumas vezes, principalmente em cenas no deserto (me lembrou até Mad Max: Fury Road). Surge outra personagem feminina que compõe o grupo, bem forte, mas que tentaram, ainda que sem sucesso, empurrar como par romântico (acho que perceberam que esse não é o foco da saga, ainda bem!). Há mais cenas de ação e o filme é mais sombrio e com cores mais escuras, o que incomoda bastante algumas vezes, mas há outras cenas de suspense e mistério que compensam isso. O filme conta com a presença de Giancarlo Esposito, o Gus Fring de Breaking Bad, e como era de se esperar ele não peca no papel. Penso que essa sequência decaiu um pouco em relação ao primeiro filme, por ser um pouco longo demais e o meio do filme conter algumas cenas desnecessárias, com uma nota 7, terei que vê-lo novamente antes da finalização da saga em 2017, mas com prazer.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Let's Be Cops

Direção: Luke Greenfield, 2014.
Uma comédia com uma ideia boa, mas com vários probleminhas. O filme conta a história de dois amigos, Justin e Ryan, que estão com 30 anos, porém não muito felizes com suas vidas. Ryan era uma promessa do esporte, mas acabou se machucando e acabando com essa carreira, e agora faz alguns bicos de ator para se manter, enquanto Justin é um programador de jogos. Justin aluga dois uniformes de policias para colocar em manequins e assim poder apresentar melhor seu novo jogo policial para seu chefe, que caga com essa ideia e sugere um jogo com “bombeiros contra zumbis”. No mesmo dia eles vão a uma festa a fantasia de reencontro da turma, porém essa festa na verdade era somente de máscaras, e os dois acabam indo com as roupas de policial do jogo. Vestindo esses uniformes eles acabam sendo respeitados nas ruas, pois pensam realmente que são policiais. 

E a premissa do filme é basicamente essa: dois caras ferrados que acabam se divertindo (e arranjando altas confusões) tentando ser policiais. Eu achei essa ideia bastante legal, mas poderia ser mais bem explorada. Gostei bastante da dupla de protagonistas, Damon Wayans Jr. e Jake Johnson, eles tem uma sintonia ótima, parece que estão realmente se divertindo e você compra a amizade deles. O filme conta ainda com a Nina Dobrev, e é aí que vêm alguns probleminhas. Há somente duas atrizes mulheres com fala no filme, e elas só estão ali para fazer um par romântico ou ter alguma conotação sexual. Isso me deixou um pouco triste, pois eu queria gostar mais do filme, realmente, mas com esse machismo exacerbado, a falta de espaço que o filme dá para as mulheres me incomodou bastante. Com uma exploração não muito boa da situação que o filme nos traz e o machismo pertinente, considero um filme engraçadinho e vale uma nota 6.