domingo, 17 de abril de 2016

10 Cloverfield Lane

Direção: Dan Trachtenberg, 2016.
Rua Cloverfield, 10, ou 10 Cloverfield Lane, é o novo filme do produtor J. J. Abrams (diretor de Star Wars: Episode VII – The Force Awekens, e também produtor do próprio Cloverfield de 2008), e nos mostra o mesmo universo do primeiro Cloverfield, mas com um ponto de vista bem diferente do anterior. A produção do filme foi bem sigilosa, e o próprio longa só começou a ser realmente divulgado quando saíram os trailers no cinema no início desse ano, muito similar ao que aconteceu no primeiro – e deu certo. Por ter um ponto de vista bem diferente do primeiro, Rua Cloverfield, 10, não pode ser comparado ao anterior, pois enquanto o de 2008 nos trouxe uma visão de horror e destruição apocalíptica, o novo nos traz um olhar de confinamento e de sobrevivência. Sua história, sem revelar muita coisa, é simples: ocorreram alguns ataques nos Estados Unidos da América que deixaram locais sem energia, mas nada muito alarmante ainda, e Michelle (Mary Elizabeth Winstead), após brigar com seu namorado, sai com seu carro e sofre um grave acidente na estrada, mas em seguida ela acorda em um bunker com outros dois homens lhe dizendo que a Terra foi atacada e a radiação que está no ar acima deles é letal, então terão que ficar pelo tempo que for necessário até a superfície terrestre estar segura novamente.

Dan Trachtenberg traz seu primeiro trabalho como diretor de longa-metragem aqui, e isso é uma grande surpresa visto a qualidade do filme. Por trabalhar com atores mais experientes, como John Goodman, poderia ter sido um trabalho extremamente caótico, mas aqui ele nos traz uma narrativa coesa, e que nos surpreende em alguns pontos. Assim como Room, esse longa é extremamente claustrofóbico – a luz do sol aparece pouquíssimas vezes mesmo! A trilha sonora auxilia esse tom de claustrofobia, quando por vezes não há som algum, só a contemplação daquele local pequeno e fechado. Aliás, a trilha sonora é outro ponto positivo, pois mesmo estando naquele contexto terrível, há alguns momentos “família” em que a música ajuda a aliviar a tensão, e até nos diverte.

            Partindo para a narrativa do filme, há uma dualidade muito grande que nos faz esperar dois possíveis finais para o filme (mais à frente pretendo comentar, com spoiler). Essa dualidade está presente não apenas na narrativa, mas muito, e principalmente, no personagem de Goodman. Foi ele que teve a ideia de construir um bunker anos atrás, e fissurado por teorias da conspiração e sobrevivência pós-apocalíptica, teve algumas perdas em sua vida por isso. Ao decorrer do filme, descobrimos outras facetas desse homem, o que põe em dúvida toda a ideia de ataque, de sobrevivência e em tudo o que eles estão vivendo lá dentro. Assim como em The Witch, por vezes o filme toma partido de um lado da história, mas logo em seguida vira o jogo e o espectador fica com uma dúvida cada vez maior.

            Se tivessem tirado algumas cenas no corte final, o longa poderia ter qualquer nome que não envolvesse Cloverfield, e ainda assim funcionaria muito bem. Como eu disse anteriormente, é outro ponto de vista desse ataque à Terra, e isso abre esse Universo Cloverfield para ser explorado em diversas ocasiões, com um mesmo pano de fundo, e em diversos gêneros cinematográficos. Mas o filme é desse Universo Cloverfield, e o diretor tem que tomar partido em suas escolhas para finalizar o projeto. (ALERTA SPOILER) Enquanto nós ficamos em dúvida entre a certeza de Goodman sobre o grande ataque, Michelle também fica, e em certo momento do filme a, digamos, curiosidade dela é maior, e após algumas tentativas ela consegue sair do bunker. Para sua infelicidade, ela descobre que Goodman estava certo, que houve ataques e que havia um gás que matava os seres humanos. Isso já no ato final, mas que é muito bem executado, como em The Witch, e também dividiu opiniões por esse final. Se Michelle tivesse saído do bunker e descoberto que não houvera ataque algum e que Goodman era um psicopata, seria um ótimo final, mas o filme tem Cloverfield no nome, então em certo momento tem que haver uma ligação, não é? Aí que surge também a explicação do título do longa: Rua Cloverfield, 10, é o endereço da casa de Goodman, onde abaixo dela está o bunker. Então, assim, poderia não haver o final com o ataque apocalíptico, mas temos J. J. Abrams na produção, que acarretou nessa escolha para o final do filme. Ainda assim, o final não é bem fechado, no sentido de abrir possibilidade para uma continuação, que é interessante, mas um pouco clichê (aliás, me lembrou de A 5 Onda, que não é algo positivo).

            Rua Cloverfield, 10, é um filme seguro, e ao mesmo tempo ousado; é Cloverfield, mas poderia não ser. Abre novos horizontes para o Universo Cloverfield, que pode ser muito bem aproveitado. Não inova o gênero de suspense e terror psicológico, e tampouco o de sobrevivência pós-apocalíptica, mas é muito interessante e bem executado. Tem um ritmo bom, não chega a cansar o expectador, e vale a pena conferir no cinema ou em casa.