quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Deadpool

Direção: Tim Miller, 2016.
Hilário talvez seja um adjetivo pequeno para esse filme. Um dos filmes mais aguardados de 2016 não é apenas um filme de super-herói. Aliás, seria Deadpool um super-herói? Nas palavras do próprio, não, mas para questões de rótulo sim. Ainda assim, não é só mais um filme de super-herói que Tim Miller nos apresenta. Deadpool é o primeiro filme deste personagem do Universo Marvel, que nos mostra a origem de seus poderes e suas intenções, assim como seu núcleo de relacionamento. Wade Wilson é um rapaz que descobre que tem câncer em vários lugares no corpo e pode morrer logo, até que um desconhecido entra em contato com Wilson e lhe oferece a cura desta doença, mas para isso ele passaria por uma experiência que lhe tornaria, talvez, um super-herói. Assim temos o filme de origem do Deadpool, e talvez o melhor da Marvel.

Esse é o primeiro longa de Tim Miller como diretor, e ele nos surpreende com uma colcha de retalhos com ótimas referências, grandes cenas de ação, e um Ryan Reynolds certeiro. Aos poucos você percebe algumas inspirações para Deadpool, como Kick-Ass (2010), com uma pegada de Guardians Of The Galaxy (2014), e várias referências da cultura pop como Star Wars e Adventure Time. O destaque cômico fica, é claro, para Deadpool, personagem de Ryan Reynolds, que brinca com o Universo Marvel, principalmente os X-Men, e com a própria carreira do ator, conhecido por participar de alguns filmes de super-heróis. Deadpool quebra constantemente a quarta parede, contando a sua história para o público e fazendo piadas, que funciona muito bem para este filme. O longa nos apresenta vilões caricaturescos, porém engraçados também, como o britânico e o russo malvados. É interessante observar o contraste entre Deadpool e Colossus (um gigante de aço), onde Deadpool utiliza todo o seu potencial sarcástico e tagarela, enquanto Colossus, sendo gigante e extremamente forte aparenta ter um perfil ingênuo e bondoso.

Aqui no Brasil, o filme recebeu a classificação para maiores de 16 anos, enquanto nos Estados Unidos a classificação “R”, proibido para menores de 18 anos. Essa classificação deve-se muito ao linguajar, as referências sexuais e a violência, porém não é tão pesado assim. Infelizmente o filme conta com algumas piadas machistas e homofóbicas que me incomodaram um pouco, mas por ter uma piada atrás da outra o filme não nos dá tanto tempo pra problematizar na hora. A tradução para o Brasil ficou legal até, mas com umas partes bregas, como a tradução de “ass” para “fiofó”, e algumas piadas intraduzíveis que só fazem sentido nos Estados Unidos mesmo. 

O ponto principal do filme é o humor. Mas não é só disso que Deadpool é feito. O longa conta com algumas cenas de ação bem bacanas, alguns cortes rápidos e câmera tremida que incomodam um pouco, mas em compensação tem algumas câmeras super lentas com aquela sacada de Deadpool que nos faz rir nas situações mais inusitadas. O romance do filme também é bem interessante, os atores tem uma sintonia muito boa e quando estão em tela nos fazem rir e abraçar esse relacionamento ao mesmo tempo. Deadpool quebra alguns paradigmas com algumas cenas sexuais não tradicionais para a sociedade heteronormativa em que vivemos, porém em seguida solta alguma frase machista que nos faz quebrar o encanto pelo personagem, durante um breve momento, pois o roteiro parece pequeno para tanta piada. Queria destacar ainda a cena inicial, uma super câmera lenta numa cena de ação com várias referências que nos fazem rir, abrindo o filme com chave de ouro. E também temos nesse longa, talvez, a melhor aparição de Stan Lee em filmes da Marvel.


Enfim, Deadpool talvez não seja o filme ideal para todas as idades, mas para aqueles jovens adolescentes que estão inseridos nesse mundo de heróis desde o primeiro X-Men do Bryan Singer em 2000, é uma aposta certeira de diversão com os amigos. 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Melhor Diretor

           O Oscar 2016 está chegando, e com ele veio várias polêmicas, principalmente a questão racial na Academia e na indústria cinematográfica norte americana. Mas isso talvez seja assunto para outra discussão, porque é muito mais profundo, envolve muitas coisas que vão além do Cinema. Agora, gostaria de escrever sobre o prêmio de melhor diretor para esse Oscar: os indicados, o trabalho que eles realizaram e a minha aposta.

Começamos por Alejandro G. Iñárritu, com seu longa The Revenant, onde mais uma vez ele nos mostra que está muito afim de receber o prêmio. Vencedor do Oscar de 2015 com Birdman, esse ano ele nos apresenta novamente a alguns planos sequências muito bem elaborados, especialmente um no início do filme envolvendo uma batalha, e, além disso, o longa é tecnicamente muito bem feito, não sendo mérito total do diretor, mas sim de todos que o cercam e estão envolvidos na produção. O trabalho com os atores aqui é muito bem feito, novamente, especialmente com Leonardo DiCaprio, que de uns anos pra cá parece que não está mais fazendo filme atoa, mas sim demonstra todo o seu potencial de atuação quando o mesmo é bem dirigido.


Seguindo o nível grandioso de Iñárritu com The Revenant, temos George Miller com Mad Max: Fury Road. O adjetivo grandioso aqui se refere apenas para as questões de uso do CGI, maquiagem e planos abertos, não dando o sentido de ser melhor que os outros filmes, que são mais simples, porém contém uma grandiosidade singular. No mais novo Mad Max, George Miller comanda novamente um futuro distópico, conseguindo mesclar muito bem o CGI com efeitos práticos, o que nos leva a crer em tudo aquilo por mais irreal que pareça. Assim como The Revenant, Mad Max também é tecnicamente muito bem feito, a fotografia, maquiagem e a mixagem de som são excelentes. Mas temos aqui um filme de gênero, um filme de ação, no Oscar. Temos aqui um filme que foi lançado há quase um ano e as pessoas continuam falando dele, e muito bem. Um filme com uma personagem feminina muito forte, quebrando estereótipos, até da própria indústria. Ou seja, um filme de ação de uma franquia clássica dos anos 80, com uma protagonista mulher, lançado há quase um ano, e foi lembrado para essa premiação que tem fama de ser extremamente conservadora. Isso só nos mostra a grandiosidade (em todos os sentidos) deste filme, que trouxe uma nova face para um dos gêneros mais populares do cinema, e que certamente será lembrado por vários anos.


Uma das surpresas deste Oscar é Lenny Abrahamson com The Room, que é um filme que teve pouca divulgação e acabou ganhando a todos com sua qualidade. The Room é, talvez, o menor filme nesta categoria (no sentido de orçamento e bilheteria), mas nem por isso deve ser desmerecido. Abrahamson nos conta uma história extremamente delicada e difícil de ser digerida pelo público, comandando muito bem os seus atores, destacando Jacob Tremblay de apenas 9 anos que dá um show nesse longa. A construção do Quarto também é ótima, parecendo que o mesmo tem vida e é um dos personagens da história, além de ser extremamente claustrofóbico. É um dos diretores que muitas pessoas falam que entrou pela “cota” do Oscar, por ser irlandês e pouco conhecido (seu outro trabalho é Frank (2014), mas que já mostra uma autoria do diretor).


Para você que viu Anchorman: The Legend of Ron Burgundy (2004) e The Other Guys (2010), talvez note algumas peculiaridades de Adam McKay em The Big Short. O longa, pela sua sinopse parece não ser muito envolvente, e até tedioso e chato, e o que Adam McKay faz aqui não tem nada disso. The Big Short conta com ótimos atores, como Steve Carrel e Christian Bale, que interpretam personagens reais envolvidos com a bolsa de valores, Wall Street, investimentos e todo esse mundo das finanças que a grande maioria das pessoas não entende nada. O trunfo para não deixar o filme entediante está no roteiro bem humorado, na montagem e nas atuações. Há algumas cenas onde aparecem algumas pessoas conhecidas na cultura pop, como Margot Robbie e Selena Gomez para nos explicar alguns termos essenciais para o filme, e também existe a constante quebra da quarta parede pelo narrador da história, e que dá um tom cômico e agradável ao longa.


A simplicidade muito bem feita, tal qual os dois longas anteriores, há em Spotlight de Tom McCarthy. Novamente, pela sinopse pode parecer um filme tedioso e chato, mas extremamente pesado pela sua temática (investigação de pedofilia na Igreja Católica). Ao contrário de The Big Short, o longa não conta com alívios cômicos, mas sim há uma extrema tensão ao decorrer dessa investigação. É um roteiro muito bem trabalhado que não cansa o expectador e ao mesmo tempo não o entedia, o que dá um ótimo material para os atores, que estão excelentes; é, talvez, a melhor equipe de atuação do Oscar. McCarthy nos mostra como fazer um filme investigativo de ótima qualidade, digno de ser lembrado por muitos anos e com certeza uma referência no subgênero jornalístico.





           São esses cinco diretores que compõe a categoria de Melhor Diretor no Oscar de 2016. Como menção honrosa, gostaria de citar também os incríveis Quentin Tarantino por The Hateful Eight, Ryan Coogler por Creed, Danny Boyle por Steve Jobs e Todd Haynes por Carol. Para levar a estatueta deste ano para casa, eu gostaria muito que George Miller fosse premiado, e creio que será, pois o que mais se aproxima aqui é Alejandro G. Iñárritu, porém é necessário observar que o mesmo levou a estatueta ano passado também, então penso que academia não se curvaria a um diretor mexicano premiando-o dois anos seguidos. Ao mesmo tempo, não seria impressionante se Tom McCarthy ou Adam McKay vencesse, um pouco decepcionante talvez. Infelizmente, o que mais está distante é o irlandês Lenny Abrahamsom, mas que ainda faz um ótimo trabalho. Fica aqui então a torcida por George Miller, e a diversidade no Oscar.